terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Porque não se pode confiar em Sharkey

Sharkey se coloca como o único dos sobreviventes do acidente do voo 1907 que é livre para falar. Diz ele:
“Now it appears as if an attempt is under way to drag me — the only one of the survivors who has been free to discuss the accident in the three years since it occurred — into the criminal case” (Criminalizing my reporting on Brazil?).
No Legacy estavam além dos pilotos americanos, diretores da Excelaire e funcionários da Embraer. Portanto é natural que pelo envolvimento profissional, as declarações destas pessoas sejam restritas a descrição de fatos e que não sejam opinativas. Sharkey, por outro lado, não é funcionário da Excelaire nem da Embraer, e segundo ele, está livre para falar o que quiser do acidente. Pode ser verdade, já que não está na linha hierárquica de nenhuma destas empresas. Mesmo assim, não há nada que impediria os funcionários da Excelaire ou Embraer de emitir suas opiniões, não há lei que os retire o direito de livre expressão. O que os impede é a “ética”. Não seria ético que defendessem ou acusassem suas empresas, tarefa a cargo das investigações aeronáuticas e criminais ou de pessoas que não tivessem nenhum interesse pessoal no seu resultado.

Sobre as razões de sua viagem para o Brasil, diz Sharkey:
“I had been in Brazil on assignment from a trade magazine to spend two days touring Embraer's headquarters near Sao Paulo, including its factories. It was two days and nights of wonk-work, being marched through production facilities and interviewing engineers, designers and Embraer planners.”
Ou seja, ele veio a convite da Embraer para escrever para uma revista de "negócios". E como foi parar no Legacy? Diz ele que pegou uma "carona":
"The new Legacy plane had 13 seats, meaning nine were empty till I agreed to hitchhike home on one. It was a non-revenue delivery flight back to the U.S. The ExcelAir representatives invited me to ride back with them just so I could see how their new-plane delivery process worked and learn a little about the company."
Como ele mesmo diz, veio ao Brasil a convite e com despesas pagas pela Excelaire e Embraer para escrever para uma revista de "negócios". Este tipo de convite permite-lhe escrever matérias sobre a aviação executiva e isto é o que lhe assegura a remuneração. É claro que se a Excelaire e Embratel não lhe convidar e pagar suas despesas não há como escrever estas matérias. É também verdade que estas empresas correm o risco dele escrever uma matéria desfavorável, mas é uma hipótese remota. Empresas não convidam “jornalistas” que possam lhes ser desfavoráveis. Muitas vezes, as empresas, se asseguram que não haja este risco, através de um “acordo” prévio sobre o conteúdo da matéria. Todos saem satisfeitos: o “jornalista” que tem sua remuneração garantida pela revista e as empresas que “vendem seu peixe” e que, em geral, para isso, “colaboram” através de publicidade na revista. Não se pode negar que exista esta possibilidade de "acordo" com Sharkey, embora ele negue.

Diante disso, Sharkey estaria livre para falar do acidente? Sem dúvida, como qualquer um, como os pilotos, como os funcionários da Excelaire e da Embraer, mas tanto quanto estas pessoas, não é ético. Não cabe a estas pessoas, pelo seu envolvimento, fazer piadas sobre as autoridades que investigam o acidente. O mesmo pode ser dito sobre Sharkey. Portanto, Sharkey pode ser tudo, menos um jornalista.