segunda-feira, 30 de julho de 2007

Não estamos só

Encontrei este artigo da Forbes, publicado no MSNBC, que me pareceu muito interessante: veja aqui. Gostaria muito de ler os comentários do Sr. Joe Sharkey sobre este tema.
É um artigo de Mark Tatge and Emily Schmall publicado em 26/02/2007 cujo título é: “Os aeroportos mais perigosos da América: Viajantes aéreos enfrentam o maior risco de morte ou ferimento no solo”. Diz o texto: “Desde 2001, 108 viajantes morreram em colisões no solo envolvendo linhas aéreas comerciais. A maioria das mortes ocorreu em aeroportos altamente congestionados. A maioria, senão todos, dos acidentes poderiam ser evitados se os aeroportos tivessem equipamentos de monitoragem adequados.”
O artigo cita o caso da confusa tripulação do jato da Delta operado pela Comair em Lexington, Ky., em agosto de 2006, que tentou decolar pela pista 26 ao invés da pista 22, que lhe foi atribuída. A pista 26 era muito curta para uma decolagem, fazendo com que a aeronave ultrapassasse o final da pista, matando 47 passageiros e dois tripulantes. Se isto ocorresse no Brasil, provavelmente todos culpariam o comprimento da pista 26, porque seria um absurdo ter pistas com comprimentos diferentes e confundir os pobres pilotos.
Diz que os dois dos piores aeroportos dos EUA estão em Nevada e Califórnia. O Las Vegas Norte, conhecido como Northtown teve 63 incidentes desde 2001, resultando em 6 mortes. É seguido na classificação por Long Beach/Dougherty Field, com 78 incidentes, mas sem fatalidades. Nestes casos, diz o artigo, o congestionamento e alto tráfego levaram a este alto número de incidentes.
Segue o artigo dizendo que o aeroporto Douglas de Charlotte/North Carolina, normalmente um aeroporto seguro, ficou em segundo na lista, devido ao acidente de 2003 da US Airways Express. Uma aeronave chocou-se com um hangar durante a decolagem matando dois tripulantes e 19 passageiros. O acidente foi provocado pela manutenção do avião, não pelo aeroporto.
O artigo ainda cita Mary Schiavo, uma advogada ligada à aviação e ex-inspetora geral no Departamento Americano de Transporte, que diz não ter muita confiança na habilidade da burocracia governamental em resolver o problema. “Nós perdemos o controle… O problema é muito grande para a FAA administrar”, diz ela com sarcasmo. Eu não seria tão crítico como Mary, pois desta forma alguém poderia sugerir injustamente uma intervenção na FAA.
O problema para a solução destes problemas, segundo a FAA, é que as obras para melhorar os 38 maiores aeroportos dos EUA custarão $510 milhões. Parte destes custos será provavelmente repassada para os passageiros e companhias aéreas. Mesmo se o sistema tiver recursos, não estará pronto até 2011.
Já ouvi esta conversa em algum outro lugar, mas não me preocupo muito porque quando viajo aos EUA entrego meu destino a Deus.

Últimas notícias sobre o acidente da TAM

Neste fim de semana a Veja publicou que a causa do acidente da TAM foi um erro de operação do piloto. Ao posicionar incorretamente a manete que controla o reator direito, que estava com o reverso pinado, o manteve em uma posição que provocou a aceleração da aeronave ao invés de freá-la. Portanto cada vez está mais claro que uma falha mecânica, já conhecida dos pilotos (um dos reversos inoperante), junto com uma falha operacional (posicionamente incorreto da manete diante desta situação) provocou o acidente.
Não é tão importante neste momento se esta análise está totalmente correta , mas já está delineado o cenário de uma conjunto de fatores técnico-mecânicos da aeronave e humanos que provocaram o acidente. O que é mais surpreendente contudo é a conclusão que todos chegam de que o acidente não teria ocorrido se a pista fosse mais longa. Para mim esta é a lógica de que se o fator-A (manete posicionada incorretamente) provoca a situação-B (acidente) diante do cenário-C (pista curta) mas não diante do cenário-D (pista longa) então deve-se eliminar o cenário-C! Isto é ilógico! O que deve ser feito é eliminar o fator-A e evitar que isto ocorra novamente, mesmo porque eliminar o fator-A é extremamente simples enquanto eliminar o cenário-C é quase impossível. Portanto o que deve ser discutido é porque a Airbus, que já havia tido 2 acidentes nesta mesma situação, não tomou medidas efetivas para evitar novamente erros humanos desta natureza?
O que diria os Sr. Joe Sharkey se uma Airbus A320 da JetBlue de Springfieds, ao tentar parar o avião sem um dos reversos, em um dia ensolarado no aeroporto JFK de Nova York, se chocasse com um DC10 da American que estivesse taxiando e houvesse 500 mortes? Ele diria que isto nunca ocorreria porque os pilotos americanos são infalíveis e bem treinados, além disso uma companhia americana nunca deixaria de fazer a manutenção em padrões superiores aos especificados pelo fabricante. Ele só se esqueceria de dizer que nos últimos acidentes mais graves da história houve avião americano que deixou cair a turbina, outro perdeu a leme e outro explodiu no mar sem que até hoje se saiba o motivo (alguns dizem, mas eu considero uma tolice, que foi abatido por um míssil. Os americanos nunca fariam isso).

sexta-feira, 27 de julho de 2007

A irracionalidade coletiva

Os comentários sobre a crise aérea brasileira têm me deixado indignado. Lamento e sinto extremamente pelas mortes nos dois graves acidentes aéreos que ocorreram, Gol e Tam, mas vejo como sendo um total oportunismo político a associação entre estes acidentes e o chamado apagão aéreo.
Temos uma crise aérea? Sim. Temos um apagão aéreo? Sim. Os acidentes estão relacionados com a crise aérea? Sim, provavelmente sem os acidentes, a crise aérea seria minimizada, mas sem dúvida alguma, mesmo sem a crise aérea poderiamos ter estes dois acidentes. Porque? Vamos analisar os dois acidentes e os fatores que contribuiram para eles.
O que causou o acidente da Gol? A resposta é obvia: O Legacy estava na altitude incorreta. Primeiramente porque não obedeceu o plano de vôo, além disso, os pilotos não conseguiram contactar o controle de tráfego aéreo em determinados momentos e não compreederam suas intruções em outros. Ou seja, houve falha de comunicação, verbal e de radio, entre o controle e os pilotos. Os controladores os instruiram a manter o nivel 370 até Brasilia e não complementaram que depois de Brasília haveria mudanças de altitude. Os pilotos do Legacy ficaram aguardando novas instruções, abandonando o plano de vôo. A partir deste contato, não há mais comunicações entre os controladores e o Legacy. Se o plano de vôo previa alterar o nível de 370 para 360 em Brasília, porque os pilotos não fizeram nada? Os pilotos não sabiam que o corredor Brasilia/Manaus previa níveis pares para eles e impares para os vôos em direção contrária? Um fato é indiscutível: o transponder que poderia evitar o acidente estava inoperante sem que os pilotos percebessem. Estranhamente, logo após o impacto o transponder volta milagrosamente a enviar o seu sinal. Ou seja ele falha nos minutos que antecedem o impacto, ninguém percebe, e depois volta a funcionar. Ficou comprovado pelas gravações de voz da cabine que eles só perceberam que estava desligado após a colisão. Quem são os responsáveis por verificar se todos os intrumentos estão funcionando corretamente? Os controladores podem ter contribuido para acidente? Claro, se fossem fluentes em inglês poderiam ter se comunicado melhor com os pilotos para que não restassem dúvidas sobre a altitude que deveriam voar. Mas e se os pilotos fossem alemães ou franceses e falassem péssimamente o inglês? É claro que os controladores de vôo têm somente o conhecimento básico de inglês, da mesmo forma que os pilotos internacionais de outras linguas que não a inglesa. Querer culpá-los por não saber fluentemente o inglês é estupidez. O mundo não é somente os EUA. Se o mundo não é fluente em inglês, por que nossos controladores deveriam ser? Um controlador de vôo alemão sabe tanto inglês quanto nossos controladores de vôo, se não menos. Falam em falhas de rádio e radar, mas todas as demais aeronaves que estavam no mesmo percurso foram perfeitamente monitoradas, até mesmo quando o Boeing da Gol saiu do radar! Além disso, rádios e radares falham no mundo todo, até mesmo nos EUA, algumas vezes influenciados por radiações solares. Ou seja, está mais do que claro que a responsabilidade principal, mas não exclusiva, foi dos pilotos do Legacy em: (1) Ao falhar a comunicação, não obedeceram o plano de vôo. Se não fosse necessário segui-lo, não precisaria ser feito. Em nenhum momento o controle os instruiu a estar no nivel 370 naquele trecho. (2) Não perceberam que o transponder não estava ativado, mesmo que por perda de sinal. Portanto, culpo sim, mesmo que não dolosamente, os pilotos do Legacy pelo acidente. O restante é irrelevante como fatores causadores do acidente, e só podem ser considerados como fatores que poderiam evitar o acidente mas não que provocariam o acidente. É o mesmo que dizer que o pedestre poderia correr para evitar ser atropelado por um carro a 160 por hora em uma via de 40. A culpa continua a ser do carro que está a 160.
E agora o acidente da TAM. Moro ao lado do aeroporto, ví as chamas pela minha janela. Estava chegando em minha residência no momento do acidente, sob uma chuva muito fraca, uma garoa na verdade. Da minha janela vejo inteiramente a pista de Congonhas. No primeiro minuto eu já dizia a todos que o avião, por sua trajetória, nunca poderia ter derrapado na pista. Antes de saber que o avião havia pousado e então se acidentado, eu dizia que o avião provavelmente estaria decolando e não havia conseguido. A trajetória era impossível para um avião que estaria pousando. Dizia eu que o avião estaria a uma velocidade incompativel com um pouso. Hoje todos já estão vendo que não houve uma simples derrapagem. O Airbus simplesmente não diminuiu a velocidade. Um avião que ao pousar neutralize os motores e acione os spoillers não chega ao final de 1,5 Km a 175 km/h! Não precisa nem de reverso para diminuir a velocidade! Ele certamente sairia no final da pista, mas não estaria a 175Km/h! Não voaria por cima da Rubem Berta, quase que horizontalmente! Outro fato, um avião não sai da sua trajetória se o piloto não quiser ou não for por uma rajada de vento, aproximação incorreta ou outro motivo grave. A pista molhada, simplesmente, sem outros fatores, não faz o avião sair da sua trajetória. Se pista molhada fizesse avião derrapar, não existiria hidroaviões. Entretanto, até hoje, insiste-se que o Airbus derrapou na pista molhada! Então o que pode ter acontecido? Os aviões modernos são quase que totalmente controlados por computadores que acionam os mecanismos a partir da detecção de eventos. Em um pouso é detectada uma condição de solo, ou seja, os sensores sabem que o avião tocou o solo e os computadores acionam os procedimentos de parada da aeronave. Está absolutamente claro que houve algum problema neste momento com o Airbus. Estes procedimentos automáticos, ou parte deles, não ocorreu. Qualquer procedimento que fosse adotado, freios, spoillers, reverso esquerdo, diminuiria significativamente a velocidade. Teria parado o avião? Ninguém neste momento pode afirmar nada, mas o que é certo é que a tripulação não fez ou não pode fazer nada para diminuir a velocidade do avião diante desta situação inesperada. O que adiantaria uma pista com altíssimo índice de atrito sem que os freios estivessem sendo acionados? Nada. Muitos afirmam que se a pista fosse maior, o piloto teria mais tempo para reagir. Mas agora suponhamos que o acidente tivesse ocorrido na pista de 4 Km de Guarulhos e a reação do piloto fosse provocar um cavalo-de-pau e neste momento se chocasse com um Jumbo que estivesse taxiando? Lembram-se do maior acidente da história da aviação, em Tenerife, quando dois Jumbos colidiriam na pista, por outros motivos, mas as mortes chegaram a quase 600? Ou seja, qualquer outra hipótese é mera especulação.
Concluo meu pensamento reafirmando, que temos uma crise aérea sim, que provoca atrasos de vôo e aborrecimento a todos. Temos falhas em nosso controle de tráfego, com condições insatisfatórias, sim. Temos corrupção na Infraero? Sim, como temos corrupção de forma generalizada neste país. Os acidentes fizeram a crise aérea explodir? Sim, mas de modo algum a crise aérea derrubou algum desses aviões. Ao invés de buscar as reais causas destes acidentes, têm muita gente que está se aproveitando da comoção deste país e daqueles que perderam seus parentes para obter algum tipo de vantagem, quer seja política, econômica ou presença na mídia.