quinta-feira, 28 de maio de 2009

Entenda as notícias

MPF faz nova denúncia contra pilotos do jato Legacy (Globo.com, 28/05/2009)
Procuradoria oferece nova denúncia contra pilotos do jato Legacy (Folha.com, 28/05/2009)

"O Ministério Público Federal em Mato Grosso apresentou nesta quinta-feira uma nova denúncia contra os pilotos Joe Lepore e Jan Paul Paladino, que comandavam o jato Legacy no momento em que ele se chocou com o Boeing da Gol em setembro de 2006. O acidente causou a morte dos 154 ocupantes do voo 1907 da empresa aérea. Assinada pelos procuradores da República Analícia Ortega Hartz Trindade e Thiago Lemos de Andrade, a denúncia é baseada dois laudos concluídos em março deste ano que apontam duas condutas erradas dos pilotos. Os laudos são assinados pelo perito Roberto Peterka com base no relatório do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos)" (Folha.com, 28/05/2009).

"De acordo com os laudos, o plano de voo do Legacy foi apresentado pela Embraer, a pedido dos pilotos, como cortesia à empresa Excel Air" (GLOBO). Isto não está correto. Diz o CENIPA: "(...) o plano de vôo elaborado por software da Universal, empresa prestadora de serviços para a Excelaire no planejamento das viagens" (Relatório Final do CENIPA, p.38). "O PIC (Pilot-in-Command) declarou ao NTSB que, alguns dias antes da decolagem de SBSJ, havia contatado a empresa Universal para confecção do plano de vôo, atendendo a determinação contida no Manual de Operações da empresa operadora" (p.94). Ou seja, o plano foi apresentado à Embraer, mas foi feito por uma empresa americana a pedido da proprietária do Legacy, Excelaire e não como cortesia da Embraer como diz a notícia.

O Globo ainda diz: "(...) o plano de voo continha a informação falsa de que o jato atendia os requisitos para voar em espaço aéreo sob condição de separação vertical reduzida, conhecido pela sigla em inglês RVSM. No entanto, o jato não tinha autorização para voar RVSM e deveria ter sido mantido a 2 mil pés de distâncias das demais aeronaves, o que teria evitado o acidente" (GLOBO).

Estas frases são um amontoado de besteiras e estão completamente incorretas. O repórter não entendeu nada da nova denúncia. Ao contrário, como confirma o relatório do CENIPA: "A separação estava ocorrendo em condições Reduced Vertical Separation Minimums (RVSM), estando ambas as aeronaves homologadas e equipadas para este tipo de operação, cumprindo o subitem 1.11.1, do item 1.11 'Procedimentos Operacionais da Tripulação antes do Ingresso no Espaço Aéreo RVSM', do AIP BRASIL (ENR2.2-2) de 23 NOV 2006" (Relatório final do CENIPA, p.36). Ou seja, o Legacy atendia os requisitos exigidos.

O motivo da nova denuncia só pode ser que "(...) as regras para operação em espaço aéreo RVSM prevêem que o piloto notifique o controle sobre qualquer inoperância desse equipamento e, caso isso ocorresse, a separação vertical entre as aeronaves envolvidas deveria ser aumentada para 2000 pés" (Relatório final do CENIPA, p.39). E por isto a nova denuncia deve reforçar o que possa ter ficado omisso na denúncia original, que foi: "(...) seguiu-se uma longa negligência omissiva dos denunciados JOSEPH LEPORE e JAN PAUL PALADINO, que, cônscios da imprescindibilidade do transponder em vôos daquela natureza, deixaram de dispensar a devida e contínua atenção ao funcionamento do equipamento, em que pesem os avisos de desligamento que ficaram permanentemente expostos a cada um deles" (Denúncia do Ministério Publico Federal, 25/05/2007, p.7). Só isso.

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