sexta-feira, 27 de julho de 2007

A irracionalidade coletiva

Os comentários sobre a crise aérea brasileira têm me deixado indignado. Lamento e sinto extremamente pelas mortes nos dois graves acidentes aéreos que ocorreram, Gol e Tam, mas vejo como sendo um total oportunismo político a associação entre estes acidentes e o chamado apagão aéreo.
Temos uma crise aérea? Sim. Temos um apagão aéreo? Sim. Os acidentes estão relacionados com a crise aérea? Sim, provavelmente sem os acidentes, a crise aérea seria minimizada, mas sem dúvida alguma, mesmo sem a crise aérea poderiamos ter estes dois acidentes. Porque? Vamos analisar os dois acidentes e os fatores que contribuiram para eles.
O que causou o acidente da Gol? A resposta é obvia: O Legacy estava na altitude incorreta. Primeiramente porque não obedeceu o plano de vôo, além disso, os pilotos não conseguiram contactar o controle de tráfego aéreo em determinados momentos e não compreederam suas intruções em outros. Ou seja, houve falha de comunicação, verbal e de radio, entre o controle e os pilotos. Os controladores os instruiram a manter o nivel 370 até Brasilia e não complementaram que depois de Brasília haveria mudanças de altitude. Os pilotos do Legacy ficaram aguardando novas instruções, abandonando o plano de vôo. A partir deste contato, não há mais comunicações entre os controladores e o Legacy. Se o plano de vôo previa alterar o nível de 370 para 360 em Brasília, porque os pilotos não fizeram nada? Os pilotos não sabiam que o corredor Brasilia/Manaus previa níveis pares para eles e impares para os vôos em direção contrária? Um fato é indiscutível: o transponder que poderia evitar o acidente estava inoperante sem que os pilotos percebessem. Estranhamente, logo após o impacto o transponder volta milagrosamente a enviar o seu sinal. Ou seja ele falha nos minutos que antecedem o impacto, ninguém percebe, e depois volta a funcionar. Ficou comprovado pelas gravações de voz da cabine que eles só perceberam que estava desligado após a colisão. Quem são os responsáveis por verificar se todos os intrumentos estão funcionando corretamente? Os controladores podem ter contribuido para acidente? Claro, se fossem fluentes em inglês poderiam ter se comunicado melhor com os pilotos para que não restassem dúvidas sobre a altitude que deveriam voar. Mas e se os pilotos fossem alemães ou franceses e falassem péssimamente o inglês? É claro que os controladores de vôo têm somente o conhecimento básico de inglês, da mesmo forma que os pilotos internacionais de outras linguas que não a inglesa. Querer culpá-los por não saber fluentemente o inglês é estupidez. O mundo não é somente os EUA. Se o mundo não é fluente em inglês, por que nossos controladores deveriam ser? Um controlador de vôo alemão sabe tanto inglês quanto nossos controladores de vôo, se não menos. Falam em falhas de rádio e radar, mas todas as demais aeronaves que estavam no mesmo percurso foram perfeitamente monitoradas, até mesmo quando o Boeing da Gol saiu do radar! Além disso, rádios e radares falham no mundo todo, até mesmo nos EUA, algumas vezes influenciados por radiações solares. Ou seja, está mais do que claro que a responsabilidade principal, mas não exclusiva, foi dos pilotos do Legacy em: (1) Ao falhar a comunicação, não obedeceram o plano de vôo. Se não fosse necessário segui-lo, não precisaria ser feito. Em nenhum momento o controle os instruiu a estar no nivel 370 naquele trecho. (2) Não perceberam que o transponder não estava ativado, mesmo que por perda de sinal. Portanto, culpo sim, mesmo que não dolosamente, os pilotos do Legacy pelo acidente. O restante é irrelevante como fatores causadores do acidente, e só podem ser considerados como fatores que poderiam evitar o acidente mas não que provocariam o acidente. É o mesmo que dizer que o pedestre poderia correr para evitar ser atropelado por um carro a 160 por hora em uma via de 40. A culpa continua a ser do carro que está a 160.
E agora o acidente da TAM. Moro ao lado do aeroporto, ví as chamas pela minha janela. Estava chegando em minha residência no momento do acidente, sob uma chuva muito fraca, uma garoa na verdade. Da minha janela vejo inteiramente a pista de Congonhas. No primeiro minuto eu já dizia a todos que o avião, por sua trajetória, nunca poderia ter derrapado na pista. Antes de saber que o avião havia pousado e então se acidentado, eu dizia que o avião provavelmente estaria decolando e não havia conseguido. A trajetória era impossível para um avião que estaria pousando. Dizia eu que o avião estaria a uma velocidade incompativel com um pouso. Hoje todos já estão vendo que não houve uma simples derrapagem. O Airbus simplesmente não diminuiu a velocidade. Um avião que ao pousar neutralize os motores e acione os spoillers não chega ao final de 1,5 Km a 175 km/h! Não precisa nem de reverso para diminuir a velocidade! Ele certamente sairia no final da pista, mas não estaria a 175Km/h! Não voaria por cima da Rubem Berta, quase que horizontalmente! Outro fato, um avião não sai da sua trajetória se o piloto não quiser ou não for por uma rajada de vento, aproximação incorreta ou outro motivo grave. A pista molhada, simplesmente, sem outros fatores, não faz o avião sair da sua trajetória. Se pista molhada fizesse avião derrapar, não existiria hidroaviões. Entretanto, até hoje, insiste-se que o Airbus derrapou na pista molhada! Então o que pode ter acontecido? Os aviões modernos são quase que totalmente controlados por computadores que acionam os mecanismos a partir da detecção de eventos. Em um pouso é detectada uma condição de solo, ou seja, os sensores sabem que o avião tocou o solo e os computadores acionam os procedimentos de parada da aeronave. Está absolutamente claro que houve algum problema neste momento com o Airbus. Estes procedimentos automáticos, ou parte deles, não ocorreu. Qualquer procedimento que fosse adotado, freios, spoillers, reverso esquerdo, diminuiria significativamente a velocidade. Teria parado o avião? Ninguém neste momento pode afirmar nada, mas o que é certo é que a tripulação não fez ou não pode fazer nada para diminuir a velocidade do avião diante desta situação inesperada. O que adiantaria uma pista com altíssimo índice de atrito sem que os freios estivessem sendo acionados? Nada. Muitos afirmam que se a pista fosse maior, o piloto teria mais tempo para reagir. Mas agora suponhamos que o acidente tivesse ocorrido na pista de 4 Km de Guarulhos e a reação do piloto fosse provocar um cavalo-de-pau e neste momento se chocasse com um Jumbo que estivesse taxiando? Lembram-se do maior acidente da história da aviação, em Tenerife, quando dois Jumbos colidiriam na pista, por outros motivos, mas as mortes chegaram a quase 600? Ou seja, qualquer outra hipótese é mera especulação.
Concluo meu pensamento reafirmando, que temos uma crise aérea sim, que provoca atrasos de vôo e aborrecimento a todos. Temos falhas em nosso controle de tráfego, com condições insatisfatórias, sim. Temos corrupção na Infraero? Sim, como temos corrupção de forma generalizada neste país. Os acidentes fizeram a crise aérea explodir? Sim, mas de modo algum a crise aérea derrubou algum desses aviões. Ao invés de buscar as reais causas destes acidentes, têm muita gente que está se aproveitando da comoção deste país e daqueles que perderam seus parentes para obter algum tipo de vantagem, quer seja política, econômica ou presença na mídia.

5 comentários:

Unknown disse...

Em relação ao acidente da Gol, acho que praticamente esta esgotado o assunto,uma sequência de eventos resultou no acidente.
Acho que no acidente da TAM, a grande parcela de culpa é da própria empresa.
Trabalhei em algumas empresas no Brasil e sei da pressão que o piloto recebe para pousar em determinado aeroporto em função das conexões(hub).Creio que esse foi um fator.
A decisão de pousar em SAO com um reversor inoperativo,pista molhada e próximo ao peso maximo de pouso,reforça essa tese.

airWatch disse...

trik trak truk,
Concordo com você, mas gostaria que você visse meu post "O cenário de um acidente", pois embora o reverso estivesse pinado, a pista molhada, etc., mesmo que simultâneos, estes não seriam um fatores impeditivos do pouso. Acredito que o comportamento do piloto ainda merece maiores investigações. Ainda acho (palpite) que há fatores tecnológicos não apurados.
Obrigado por seus comentários.

Unknown disse...

Prezado Carlos, obrigado por postar meu comentário mesmo com esse email.
Olha em relação a parte tecnológica,sinceramente não posso opinar porque meu conhecimento em Airbus se resume a algumas buscas na internet.
O que posso te dizer que operei outro equipamento(B737-300) na ponte aérea entre 1995 e 1998 e a operação com um reversor inoperante tanto em SAO como SDU era proibida.Reafirmo: Não conheço o Airbus.
Agora imagino um outro cenário: Kleyber decide alternar GRU.
A coodernação de voos reclama pois teria supostamente alguns passageiros em conexão.
Logo o piloto chefe ou chefe do equipamento o chama para dar explicações.
O ASV,OSV ou coisa que o valha não estará lá para defende-lo.
Ele esta só.
Criei esse cenário apenas para dar um reforço a minha tese.
Como voce próprio disse"palpite".
Obrigado.
Mario Pinho

airWatch disse...

Mario,
Acredito que a indevida pressão sobre os pilotos leva-os a correr mais risco do que seria aceitável. São os casos de outros "overrun", onde as condições atmosféricas e de pouso eram desfavoráveis. Nestas situações, mesmo o piloto não cometendo erro algum, os acidentes ocorrem. Observe o cuidado com que os pilotos estavam se preparando neste pouso da Tam.
Estavam preocupados com o reverso, estavam preocupados com a chuva, estavam preocupados com o grooving. E mesmo assim, digamos, neste estado de atenção redobrada, cometeram um erro tido como primário? A explicação que está sendo dada é de que o stress e pressão levou ao erro. Gostaria muito que as investigações não parassem por aí, e que todos os antecedentes deste pouso fossem apurados. Porque hoje estamos falando do reversor, mas imagino que há infinitas outras situações de pousos e decolagens em que o piloto não pode cometer um erro desta mesma natureza.
Abraços.

paradigmas universal disse...

eu tenho um texto com o mesmo titulo isso não ´engraçado ...