Em certos momentos chego a ficar realmente indignado com as notícias que são publicadas nos jornais e as distorções da realidade que são mostradas à população. Quem acompanhou este blog pode ver que não se pode atribuir qualquer erro aos controladores de voo no acidente da Gol. Ao controlador Jomarcelo estão sendo atribuídas “falhas” que seriam cometidas por qualquer controlador em qualquer lugar do mundo.
Culpam-no não ter observado que o Legacy previa uma mudança de altitude em Brasília. Já expliquei repetidamente este ponto, mas repito novamente: nenhum avião tem em seu plano de voo previsões para alterações de níveis de cruzeiro. Isto se deve a, podemos dizer, uma estupidez do plano de voo da Universal Weather, empresa americana que fez o plano de voo do Legacy. Seu programa de computador desconsiderou que a aerovia UW2, de S.José a Brasília, embora tivesse proa nordeste (6º), era uma via de “mão única”. A aerovia UZ6 de Brasília a Manaus era uma aerovia de “mão dupla” com proa noroeste e, portanto, o Legacy deveria seguir em um nível par na UZ6. Sendo a UW2 via de “mão única”, o Legacy poderia ter ido em em um único nível par de S.José a Manaus. Esta montanha russa do plano de voo do Legacy (370, 360, 380) era algo completamente desmotivada, inexplicável e inesperada.
Culpam Jomarcelo por não ter observado na strip a montanha russa. Nenhum controlador em nenhum lugar teria observado esta estupidez. O controlador observa a strip para acompanhar a rota da aeronave e antever os possíveis conflitos de tráfego em sua rota. O nível de voo é acompanhado normalmente pela etiqueta da aeronave. Não se visualizava no console nenhuma situação de potencial conflito na rota do Legacy no momento em que estava sob Brasília. Não havia nenhum tráfego na sua rota. Sem tráfego, é óbvio que o controlador não dedicaria maior atenção a este voo.
Culpam Jomarcelo por não ter contatado a aeronave quando o transponder da aeronave foi desligado por imperícia dos pilotos. O transponder é um equipamento que depende de transmissões por rádio. Qualquer um sabe que desde que Marconi inventou o rádio, em diversas situações as ondas de rádio podem ser interrompidas. Se os controladores passarem a contatar todos os aviões que estão sem contato com o centro de controle em regiões como a amazônica ficarão malucos.
Ou seja, não há nada que possam culpar Jomarcelo pelo acidente, a não ser as besteiras que foram colocadas nas denúncias pelos promotores, que entendemos, estavam no seu papel de denunciantes.
Agora querem dizer que Jomarcelo pode ser considerado uma pessoa sem "condições" e com "deficiente controle emocional" para a função de controlador de vôo. Independente disso ser verdade ou não, foi isso que o fez não observar a strip? Foi isso que o fez não contatar o Legacy quando o transponder foi desligado? É claro que não. É óbvio que não. Falta qualquer nexo causal entre esta observação sobre o controlador e as causas do acidente. É para camuflar, esconder, desviar a atenção das pessoas e minimizar as verdadeiras causas do acidente que foi, sem dúvida, o desligamento do transponder por imperícia dos pilotos.
Sempre é bom lembrar que, se os pilotos estivessem atentos aos instrumentos, não estivessem com um notebook à frente do painel por quase uma hora, não teriam desligado inadvertidamente o transponder. Com o transponder ligado, a tela do radar passaria a mostrar em destaque na etiqueta do voo da tela do radar a informação 360=370, alertando o controlador. Jomarcelo entraria em contato por rádio com o Legacy solicitando a ele que procedesse à mudança de altitude prevista, como ele fez em milhares de voos que passaram por seu controle.
Este acidente não teve outra causa a não ser a imperícia dos pilotos, desligando inadvertidamente o transponder.
Folha.com - Controlador do caso Legacy era inapto para função.
sábado, 21 de maio de 2011
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