É importante que os leitores das últimas notícias sobre a iminente divulgação da apuração do acidente da Gol tenham suficiente senso crítico sobre o que está sendo divulgado pela imprensa, principalmente sobre a contribuição do controle de tráfego aéreo.
A liberação do Legacy na altitude incorreta
Como está sendo divulgado pela imprensa, a impressão que se tem é que o controle de tráfego aéreo teria “ordenado” que o Legacy mantivesse 37 mil pés até Manaus. Não é verdade. A torre de S.José dos Campos emitiu uma autorização utilizando uma fraseologia incorreta, que confirmava o nível do trecho inicial, em um formato extremamente comum no Brasil, omitindo o final da instrução que deveria terminar com “as filed” (autorizado conforme o plano de vôo). Isto levou a uma compreensão equivocada por parte dos pilotos, e que de certo modo, justificável, mas se estivessem preparados para o vôo, com certeza não aceitariam esta autorização e a colocaria em dúvida. Afinal, os colocava na contramão de Brasilia a Manaus. Ou seja, seguida ao pé-da-letra, os pilotos estariam corretos em sua interpretação, mas qualquer outro piloto teria entendido que estavam sendo liberados conforme o plano apresentado. A falta de familiaridade com o espaço aéreo brasileiro levou os pilotos a esta equivocada compreensão da autorização. Além disto, qual o sentido de receber um plano detalhado de vôo, prevendo diversos níveis durante o trajeto, e serem liberados com um nível único? Alguma coisa certamente estava errada. Esta é a razão do controle de vôo não perceber que o Legacy seguia um plano de vôo que existia somente na cabeça dos pilotos. Isto pode ser comprovado pela gravação da torre e pelas declarações dos controladores à CPI.
O controle de vôo não percebeu que o Legacy estava em rota de colisão
Os controladores não perceberam o risco porque não imaginavam que o Legacy voava na altitude de 37 mil pés. Primeiro, porque esta altitude era contrária às cartas aeronáuticas e segundo porque o transponder foi desligado inadvertidamente pelos pilotos. Para os controladores, portanto, tratava-se de um problema menor de comunicação envolvendo o transponder. Nem em sonho eles poderiam imaginar que o Legacy estava na contramão. E esta é a razão de não terem agido adequadamente diante desta situação de risco iminente. Segundo os controladores, ausência de sinais do transponder é uma situação muito comum já que a comunicação dele com o controle de tráfego aéreo é feita por meio de ondas de rádio e, portanto, constantemente sujeitas a falhas. Culpa-se o controle de vôo por não ter percebido esta situação, mas não se vê nenhum comentário sobre o transponder estar desligado por uma hora, sem que os pilotos observassem esta informação no seu painel PRIMÁRIO! Ou seja, a informação “TCAS OFF”, permaneceu atrás da tela do notebook que os pilotos estavam utilizando no seu colo para fazer cálculos de combustível este tempo todo! Ou seja, o controle não viu que o Legacy estava na contramão, mas muito mais grave, os pilotos não viram que o transponder estava desligado porque não olharam para o painel de comando. Se não o tivessem desligado, o controle teria verificado que estavam na altitude incorreta, e ai sim teriam sido tomadas outras ações diante de um risco concreto de colisão.
Estado - 09/12/2008 - O que diz o relatório da Aeronáutica sobre o acidente da Gol
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário