sexta-feira, 24 de agosto de 2007

As marolas do Sr. Sharkey

O Sr. Joe Sharkey continua distorcendo os fatos, publicando links para blogs amadores cheios de fantasias e confundindo os leitores, com o único objetivo de criar um clima de suspeição contra as investigações que estão sendo feitas, e com isso livrar os pilotos do Legacy e Excelaire de qualquer responsabilidade. Não bastasse o mar de m... que estamos metidos, ele ainda faz marola.

Primeiro insiste que os pilotos foram levianamente acusados, quando na verdade quem acusou os pilotos são os blogs como o meu, alguns elementos da imprensa, que podem falar o que quiser e políticos em busca de notoriedade, mas não a justiça. A justiça segue seu rito processual, como seguiria em qualquer país democrático do mundo, inclusive nos Estados Unidos. A polícia elaborou o inquérito, remeteu à procuradoria federal que ofereceu denúncia, que foi aceita por um juiz federal. Até agora só foi isso. Os pilotos apontam o controle de tráfego aéreo de imperícia e os controladores e as investigações aeronáuticas preliminares apontam suspeitas de que os pilotos agiram com imperícia ao desconhecer as rotas aéreas brasileiras e na operação dos equipamentos de navegação. A justiça, não julgará sem estar fundamentada nos laudos periciais colhidos na investigação aeronáutica e sem ouvir todas as partes. O processo mal começou, e pela lentidão que tem o andamento dos processos no Brasil, sabemos que se passarão muitos anos antes de qualquer decisão. Os pilotos podem ficar tranqüilos de que não há a menor possibilidade de receberem qualquer punição pela legislação brasileira, porque mesmo que intimados, nunca mais voltarão ao Brasil (1), e nem a justiça americana aceitará que seus cidadãos sejam julgados em outro país por um crime tão controverso. Podem dormir em paz, porque se há um lugar que nunca mais precisarão voltar será ao Brasil.

A criminalização de acidentes aéreos no Brasil pode ser bem exemplificada pelos procedimentos jurídicos que se seguiram ao acidente do vôo 254 da Varig em 1989. Veja em Descrição das penalidades judiciais impostas ao piloto e co-piloto. Como se vê, o máximo que aconteceu ao comandante foi não poder pilotar. Acho que depois do acidente nem ele queria mais.

Joe Sharkey colabora para a confusão dos leigos em justiça quando afirma que não há crime quando não há dolo. Crimes dolosos são aqueles em que há a intenção do agente em produzir o resultado, enquanto os crimes culposos são aqueles que o agente, sem intenção, colaborou para o resultado ao agir com imprudência, negligência ou imperícia. Portando, não há a discussão se os pilotos tiveram a intenção ou não. É claro que não tiveram a intenção de derrubar o avião da Gol. O que se investiga é se agiram de forma culposa. O Sr. Sharkey possui nível cultural para saber isso, e se confunde os leitores é porque tem outras intenções.

Para tornar os ânimos mais exaltados, e assim eximir toda a responsabilidade dos pilotos do Legacy e a Excelaire, a patrocinadora da sua causa, associa de forma causal toda a crise aérea que vivemos, que é incontestável, com os dois acidentes. Mais uma vez repito, a crise aérea provocou uma convulsão em nosso país, com atrasos e cancelamentos de vôos, retomou a discussão dos congestionamentos e segurança dos aeroportos, botou o dedo na ferida da corrupção em todos os níveis do governo em conluio com maus empresários, mas sem a menor dúvida não derrubou o avião da Gol e tampouco o da TAM. O avião da Gol foi derrubado pela ausência de familiaridade dos pilotos do Legacy com o nosso espaço aéreo, confundindo instruções e um controle de tráfego que não pode ajudá-los por falhas da lógica do sistema dos radares. Juntou-se a isso a questão, a ser apurada, das inexplicadas ocorrências de operação do transponder. O acidente da TAM, até o momento, teve sua causa no comportamento até agora injustificável do piloto no posicionamento da manete direita. Aqueles que insistem em comprimento da pista, grooving, chuva, reverso pinado, ausência de alarmes e outros fatores, leiam meu post O cenário de um acidente.

Nós brasileiros, estamos realmente em uma fase muito negra. Já não bastasse toda a crise aérea, ainda nos acontecem estes dois graves acidentes provocados por falhas humanas mínimas de pilotos e controladores de vôo. O que demonstra que não há tecnologia, não há política, não há empresa, que não faça nossas vidas dependerem de outros seres humanos como nós, ou para aqueles que têm fé, alguém acima de todos nós.

(1) Acabei de ler na Folha: "Em petição encaminhada por fax no final da tarde desta quinta-feira (23), os advogados dos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paladino informaram à Justiça Federal que os dois não comparecerão ao interrogatório marcado para a próxima segunda-feira (27), na comarca de Sinop (MT)." Como eu disse, isto era mais do que esperado, graças a bem sucedida campanha movida pelo Sr. Joe Sharkey ao colocar toda suspeição sobre o tráfego aéreo brasileiro, eximindo os pilotos de qualquer responsabilidade. Contou também com a colaboração de todo o oportunismo político que emergiu nestes últimos meses. No artigo Audiência impossível podem ser encontrados mais detalhes do andamento do processo. Agora o processo deve correr a revelia. Veja na Folha

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