sexta-feira, 3 de agosto de 2007

De volta ao acidente da Gol

Por que Joe Sharkey afirma que os pilotos do Legacy são inocentes? Sua fundamentação é que o controle de vôo os colocou no nível errado e eles não têm nenhuma responsabilidade na falha do transponder, cuja culpa é da Honeywell e Embraer. Vejamos.

A altitute incorreta
Às 15:51 houve o último contato bilateral entre o Legacy e Brasília, quando eles estavam a 40 milhas de Brasília. O diálogo foi:
Legacy - Brasília, N600 transfering.
Controlador - N600 squalk identification, maintaining flight level 370, under radar surveillance.
Legacy - Roger.
Na primeira frase, o Legacy confirma que mudou a freqüência de rádio. A seguir, o controlador pede ao piloto que identifique a aeronave por meio do transponder. Na mesma frase, o controlador orienta o piloto a manter o nível 370, sob o regime chamado de "vigilância radar". Ao responder "Roger", o piloto diz que estava ciente das orientações.
Quando um avião voa sob o regime de "vigilância radar", o piloto fica dispensado de informar ao controle aéreo sua posição porque a aeronave é monitorada o tempo todo em terra, só isso. Não quer dizer que ele deve manter seu vetor sem nenhuma mudança. O piloto do Legacy, poderia ter entendido que estaria em “radar vectoring” e assim não precisava mudar sua trajetória. Mas ele mudou de aerovia em Brasília, e passou para o vetor de Manaus, mas não mudou de altitude, e manteve nível 370. Poderia se dizer que o correto seria o controlador complementar sua frase, avisando que a altitude de 37 mil pés valia apenas até Brasília. Ora, isto é obvio. O plano previa 370 até Brasília. Se ninguém avisasse os pilotos, eles iriam no nível 370 até os EUA, esperando para alguém avisar? Se o plano previa duas mudanças de nível depois de Brasília, não era para desconfiar de alguma coisa? Por que o plano de vôo previa 360 até Teres e depois 380 até Manaus? Para brincar de montanha-russa? Até um leigo, ao ver um mapa aeronáutico percebe quais são as aerovias de mão-única e de duas direções. Era obvio que havia níveis diferentes porque senão os aviões que vinham podiam colidir com os que iam, não é? Qualquer piloto sabe disso. Isto mostra que eles voavam sobre o Brasil sem nenhuma noção de nossas aerovias. Onde eles pensavam que estavam? Em Gana?
Às 16:02 houve perda de informações do transponder, e o software de controle de vôo passa a apresentar para os controladores a altitude do plano de vôo (360), neste momento incorreta já que eles mantiveram o nível 370, mas com a indicação de falha do transponder. Entre 15:51 e 16:26 não houve qualquer tentativa de contato, nem por parte do Legacy, nem por parte do centro de Brasília. A partir das 16:26, Brasilia tentou 7 chamadas. A partir das 16:48 o Legacy tentou 12 vezes chamar Brasília. Às 16:53 Brasília fez a última tentativa de chamada, às cegas, fornecendo duas freqüências para chamarem Manaus. O Legacy ouve a chamada, mas não copia as freqüências. Em seqüência o Legacy pede para Brasília informar novamente as freqüências. Brasília não recebe esta chamada. O Legacy tenta mais 7 chamadas a Brasília até as 16:56:53. Às 16:56:54 ocorre a colisão.
Conclusão: Os pilotos do Legacy não alteraram seu nível de vôo porque não receberam instruções de Brasília, mesmo estando absolutamente claro para eles que havia um problema de comunicação (rádio). Em nenhum momento Brasília falou para ficar no nível 370 depois de Brasília. Eles que entenderam errado. Os controladores disseram para eles ficarem no nível 370 porque eles não haviam chegado a Brasília. Será que não dava para suspeitarem que eles não receberam as instruções para mudar de nível porque estava havendo um problema de rádio? Não passou pela cabeça deles que eles poderiam estar no nível errado? Será que um piloto não deve conhecer as rotas aéreas por onde vai voar? Mesmo sem instruções para alterar o vetor, alteraram. Porque não tomaram a mesma atitude com a altitude?

O transponder
A falha do transponder não foi a causa do acidente. O transponder poderia evitar o acidente, mas deixou de funcionar e desta forma não evitou o acidente. É preciso separar o que causa o acidente e o que poderia evitá-lo. A comissão aeronáutica que investigou as causas do acidente concluiu que o transponder e o rádio do jato Legacy funcionavam normalmente e não sofreram nenhuma pane até o choque. A Excelaire e os pilotos alegam que não desligaram o transponder e que a Embraer teria colocado um transponder que havia apresentado defeito em um avião anterior, devolvido a Honeywell e depois colocado no Legacy. É bem possível que isto tudo seja verdade. Mas não muda nada. Se estava pifado, parece que foi consertado pela Honeywell, e nada foi comprovado que ele apresentava falhas intermitentes, pelo contrário. As hipóteses para sua inativação são várias. Pilotos nos Estados Unidos e no Brasil, dizem que a complexidade de funcionamento do transponder pode ter induzido a erro a tripulação. O piloto do Legacy, Joseph Lepore, pode ter mexido no código do transponder pensando que ativava o rádio de navegação, uma vez que o botão de ajuste da freqüência desses dois equipamentos é o mesmo. E, para o ajuste de freqüência, o piloto tem antes de acionar teclas que ficam próximas no console. Se o piloto de fato errou, o transponder pode ter entrado em modo de espera (stand-by) e deixado de fornecer ao controle em terra a identificação durante o vôo. O transponder do Legacy fica no mesmo console que o rádio de navegação, usado pela tripulação para fazer contato com o controle de vôo. No jato, o botão tune - semelhante ao usado para sintonizar emissoras num rádio - tem tripla função: registrar no transponder o código transmitido pelo controle de vôo, sintonizar o rádio para comunicação com a torre e determinar a freqüência do TCAS. Lembram-se dos problemas com o rádio que os pilotos tiveram? Em resposta à alegação da Excelaire, a fabricante Honeywell informou que o Legacy não utilizava transponder e unidade de comunicação sob suspeita de falha pelas autoridades aeronáuticas dos Estados Unidos. A FAA, alertada pela própria Honeywell, descobriu que uma série destes transponders poderia entrar automaticamente em modo de espera ("stand-by", inoperante para radares na prática). A condição para isso seria o caso de alguém da tripulação operar por mais de cinco segundos o botão giratório da unidade de comunicação do avião para mudar o seletor de código de rota, um código que, transmitido pelo transponder com dados como altitude e velocidade, ajuda a identificar o avião no radar. Depois de algumas afirmativas e recuos, a Honeywell reafirmou que o Legacy não utiliza o tipo de transponder listado como suspeito.
De qualquer forma ficou absolutamente claro que o Legacy ficou 1 hora sem o transponder, pifado segundo eles, e não perceberam! Desligado acidentalmente, ou por má operação ou por pane não importa, eles não viram que o transponder não funcionava. Mas bastou olhar para o painel, depois do acidente, para que milagrosamente volte a funcionar!
Conclusão: O transponder fica uma hora sem funcionar, sem que ninguém consiga provar que estava defeituoso, e os pilotos não percebem. Será que os pilotos não devem ficar atentos ao painel, já que estão em um país onde não conhecem o espaço aéreo? Já que não conheciam as rotas, não deveriam estar seguros que estavam efetivamente sob “radar surveillance”.

O curioso sobre este acidente é que já que, segundo o Joe Sharkey, foi causado pelo nosso péssimo controle de tráfego aéreo, que os colocaram na altitude incorreta, não tenha ocorrido antes com nenhuma das dezenas de aeronaves, em vôos comerciais, que vão é voltam para os EUA todos os dias, e tenha acontecido justamente com eles em sua primeira viagem ao Brasil. Eles são azarados mesmo!

Concluam por si mesmo quem provocou o acidente. O poder judiciário indiciou os dois pilotos e quatro controladores de vôo. Eu pessoalmente acredito que os pilotos são culpados por imperícia e negligência (crime culposo e não doloso) e os controladores deveriam ser advertidos pela falta de iniciativas diante do transponder inoperante e supor que o Legacy estivesse em uma situação de risco de colisão.

Um comentário:

Tenney Naumer disse...

Carlos, boa tarde. Tudo bem? I have left a reply to your comment on my blog. Sorry to take so long to reply. I have been very busy lately. Tenney