quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A caixa da preta do Airbus

Não quero parecer presunçoso, mas já começam a aparecer os primeiros indícios de que o que eu falava deste o início não estava errado. Vejam meus posts Irracionalidade coletiva e Últimas notícias sobre o acidente da Tam.
Continuo afirmando que uma falha mecânica (incluindo falhas de sensores e até mesmo software) deixou os pilotos em uma situação que não permitiu superá-la. Não acredito em falhas de manutenção, mas até pode ser. Falhas ocorrem independentes de manutenção, quem entente um pouco de gestão de riscos sabe disso.
Quanto à questão de não frear, vamos ver alguns fatos: Lembro-me das aulas de física que a frenagem aerodinâmica exerce forças que crescem exponencialmente em relação a velocidade e as forças de atrito (freios das rodas) são constantes, independente da velocidade com que se desloca o objeto (o avião). Um dragster, um jato de caça, iniciam a frenagem com um pára-quedas (um freio aerodinâmico). Por quê? Em alta velocidade a força exercida pelo pára-quedas é enorme, mas some quando a velocidade diminui. Não sou piloto, e se algum ler este post, me ajude. Imagino que nos primeiros momentos do pouso o que segura o avião são os spoillers para cima e os flaps totalmente abaixados. Quando a velocidade diminui um pouco e passam a perder seu poder de frenagem, passa a ser fundamental os freios e o reverso. Quando estou em um avião, me parece que os reversos só são acionados bem depois que tocou na pista. Quando vejo a pista de Congonhas pela minha janela, me parece que é bem lá pelo meio da pista. Não é? Se os freios forem acionados ao extremo logo no início do pouso, em uma pista de alta aderência, acredito que eles vão pro espaço. Estou correto? O avião pousou a 240 e saiu depois de 1,7Km de pista a 175! Parece que está mais evidente que o avião não acionou nenhum freio aerodinâmico! Por quê? Pane mecânica, pau de software, falha nos circuitos de detecção de solo, etc. Um montão de hipóteses. Nenhuma relaciona à pista ou ao reverso. Nenhuma relacionada com os pilotos, que ficaram desesperados com a situação dos spoillers não terem aberto. Nenhuma relacionada com a aderência da pista ou a chuva.
Sobre o tamanho da pista. Mais uma vez ouvi alguém falar: ahh mas se a pista fosse maior... Gente, os aviões pousam nas pistas adequadas para as suas características operacionais, tamanho, carga, etc. A pista de Congonhas é tecnicamente adequada para um Airbus A320 com razoável margem de segurança. E se esta situação tivesse ocorrido com um Jumbo em Guarulhos? Vamos ter que aumentar a pista de Guarulhos para 6Km? Não, não é possível. A pista de Guarulhos é adequada para aviões de qualquer tamanho, Congonhas para aviões do porte de Airbus, e o aeroporto da Praia Grande para teco-teco. Caso contrário vamos ter que aumentar TODAS as pistas, mantidos os aviões atuais. Ou seja, não vai ter mais lugar para pousar Jumbos ou teco-teco. Só por curiosidade, o aeroporto Santos Dumont tem 1393m!
Outra coisa, não vai fazer muita diferença se um avião cair no meio do mato ou na minha janela (moro na direção da cabeceira da pista de Congonhas, há uns 500mts). Vão morrer menos pessoas no chão do que morrem cada dia no trânsito e estradas daqui. Tenho mais medo de sair de casa do que ficar vendo os aviões na minha janela. Congonhas está onde está porque nós passageiros queremos e pagamos por isso.

3 comentários:

Patrício M disse...

Carlos,
Acabo de ler seus dois últimos posts. Em primeiro lugar, quero dizer que suas mensagens são coerentes, isentas e objetivas. Você coloca fatos de muita importância e levanta questões de absoluta relevância. Só o que posso fazer é acompanhar as notícias. Desde o começo disse que nada poderia ser afirmado até que a caixa-preta revelasse mais informações. Um parêntesis: não sei se vale mais à pena perder tempo com Joe Sharkey. Como eu já mencionei inúmeras vezes, aquele blog é o reflexo das distorções de um sujeito com interesses que não são compatíveis com a VERDADE. Esses seus últimos posts seriam provavelmente censurados lá porque são bons demais. O objetivo de Joe Sharkey é atacar o Brasil. Não se esqueça que muitos americanos realmente acreditam que são 'superiores' e que detém a verdade. Só assim para explicar o fato de que mais de 50 milhões votaram por duas vezes num criminoso sanguinário como George Bush, sabendo-se que tudo que ele propunha era a supremacia americana ao redor do mundo a qualquer custo. Mas voltemos ao que interessa. Quando o piloto tentou parar o Airbus, um dos motores de fato perdeu potência, mas o outro tentou compensar, correto? Se isso foi decorrência de um dos manetes estar em posição errada, porque não há nesses aviões indicação alguma no painel (ou um alarme) alertando que algo está errado em momento tão crítico?? O piloto teria tempo para corrigir a falha. No caso do Airbus, será o que o piloto tentou corrigir? Se sim, porque não conseguiu? Seria mesmo o tal problema de excesso de tecnologia? Afinal, é algo de vital importância na aterrisagem. É estranho que o piloto sabia que estava com um reversor apenas, tanto que a caixa preta registra a frase, mas mesmo assim falhou ao esquecer a posição do manete??Seria essa uma constatação de falha mecânica então? Os freios de fato não são páreo para turbinas. Uma vez que a turbina direita tentava fazer o avião subir, os freios e os flaps não foram suficientes para evitar a propulsão. No caso, mesmo se a pista fosse bem maior, tudo indica que o avião continuaria avançando até bater em algum lugar. Como situações semelhantes já aconteceram, sabe-se que com uma pista que desse para um descampado, por exemplo, evitar tal desastre. Infelizmente muitos aeroportos ficam em regiões densamente habitadas. Mas repito a pergunta: se o piloto falhou e deixou o manete em posição errada, TERIA ELE tido a chance de reverter o quadro imediatamente após pousar? Se tentou, foi bloqueado pelo computador??? No áudio parece que nada é mencionado nesse sentido...Até a próxima. Carlos Solrac

Patrício M disse...

À propósito, no dia em que se fica sabendo o conteúdo da caixa-preta, Joe Sharkey publica um post que ataca o sistema de controle aéreo brasileiro. Qual a razão de tal post???? Fica mais do que evidente de que esse sujeito POUCO SE IMPORTA com o que aconteceu no acidente da TAM e igualmente ao da GOL. TUDO o que esse cara quer é livrar a cara dos pilotos americanos. MAIS NADA. É VERGONHOSO e ultrajante. Um cara desse JORNALISTA???? Socorro...

airWatch disse...

Carlos solsac,
Me revolta o blog do Joe, sem que suas posições viesadas sejam contestadas de modo sereno e coerente e criando esta imagem do Brasil. ELe não publica nenhum dos meus comentários. Não sou ufanista, e sou extremente crítico com TODOS partidos políticos, mas me revolta este oportunismo que está ocorrendo, dizendo que a crise aérea, que é real, existe, é incontestável, provocou os acidentes, fugindo das suas verdadeiras causas.
Quanto ao tamanho da pista, Carlos, continuo com minha opinião de que isto ocorreu nesta combinação de fatores: pane (chuto computadores, sensores ou acionadores de flaps e spoillers) mais Airbus (pelo seu tamanho) mais Congonhas. Mas poderia acontecer se fosse um Jumbo em pane no aerporto JFK, não é? Lá um Jumbo está no limite da pista não está? Poderia acontecer com um teco-teco na pista da Praia Grande, não podia? O avião deve ser adequado à pista. Até agora não há nada que indique que o Airbus é inadequado para Congonhas. Veja que eu sou um profissional de tecnologia e informática e tenho forte suspeita de que o que ocorreu está ligado a algum problema da tecnologia do avião. Acho que a culpa foi de algum amigo meu, eheheh. (eu não devia brincar nesta hora, shame on me). Só sei que quase todas as hipóteses que foram feitas na mídia até agora me parecem fisicamente inconsistentes, até mesmo por especialistas. Só agora estamos vendo hipóteses mais factíveis.
Quanto ao reverso, acredito que tenha tido papel secundário. Se o motor direito empurra a o avião e o esquerdo para, a resultante é nula e somente provocaria um efeito de rotação da aeronave no seu eixo, fazendo-a derrapar. Não parece que isto aconteceu. Pode até ter acontecido que o reverso que estava bom não tenha sido acionado. Além disso, as últimas noticias dão conta que os manetes estavam corretos. Me parece que a notícia da Veja não procede. Há inúmeras hipóteses, mas continuo insistindo que nenhuma que pareça estar relacionada com a pista. Nos outros posts que eu fiz, eu opino sobre esta questão da pista de Congonhas.
Abraços.