sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O aeroporto de Congonhas

Embora ainda estejam sendo esclarecidas as causas do acidente da TAM, está havendo um grande debate sobre o tamanho da pista. O discurso se tornou: Ah, se a pista fosse maior o acidente não teria acontecido. Entretanto não é bem assim que as coisas acontecem. As pistas são as maiores que as condições topográficas permitem tendo em vista as necessidades dos aeroportos. Portanto, o comprimento da pista é dado de início. Em função do comprimento das pistas, e segundo parâmetros de segurança, verificam-se quais aeronaves podem pousar e decolar por esta pista. Portanto, não se escolhe o avião e depois se constrói a pista. É o contrário. No caso de Congonhas, após o estudo das características das aeronaves, verificou-se que o Airbus poderia pousar seguramente neste aeroporto. Esta decisão não é arbitrária. Ela é tomada após inúmeros testes e simulações feitas pelos fabricantes dos aviões. Da mesma forma é seguro um Airbus pousar na pista do Santos Dumont com apenas 1400 metros, mas sob outras condições, como menor carga, boas condições atmosféricas, etc. Um Airbus pode estar muito mais seguro, por exemplo, decolando de Congonhas com boas condições atmosféricas, do que um Jumbo, carregado, decolando de Guarulhos em meio à uma tempestade. Todas as variáveis formam um cenário de risco controlado e minimizado. A questão não é aumentar a pista de Congonhas, mas sim verificar se a operação de Airbus nesta pista está adequada, como eu tenho certeza que está. Outro aspecto importante é que a determinação da aeronave que pode operar em determinada pista está na decolagem e não na aterrisagem. Uma aeronave que pode decolar em uma determinada pista, com certeza e com mais segurança poderá pousar. Outro debate que está havendo é a proximidade dos edifícios da pista. Não querendo fazer humor negro, mas acho que para os passageiros tanto faz morrer batendo numa árvore ou em um edifício. E se cair em um edifício, para ele também tanto faz se é uma residência ou um hangar. Algumas vezes os aviões caem em áreas urbanas, mesmo que o avião decole ou pouse fora delas. Em 1979, em Chicago, um DC10 caiu a 1km do final da pista, matando 2 pessoas no solo. Em 2001 um Airbus A300, maior que o A320, com 260 pessoas a bordo, perdeu o leme depois de decolar do aeroporto Kennedy em Nova York, caiu em uma área residencial de Belle Harbor e matou 5 pessoas no solo. Ou seja, com certeza a probabilidade de você ser morto por um acidente de carro ou em um assalto em Moema, a 500 mts da cabeceira da pista, onde eu moro, é centenas de vezes maior que cair um avião na minha cabeça. Não acho que Congonhas, onde está, é uma maravilha para nós moradores, mas temos que entender as suas razões históricas de existir, e não esperar que da noite para o dia isto se modifique. O importante é que a sua localização não provocou o acidente. Se este acidente tivesse ocorrido no Santos Dumont, o avião, por sua velocidade, se espatifaria no mar, matando todos afogados, com poucas chances de se salvarem.
Agora esta característica de Congonhas encontra outros exemplos bem semelhantes pelo mundo. O aeroporto Midway de Chicago é o segundo aeroporto mais congestionado do estado de Illinois. A maior pista tem 1.988 metros. O aeroporto nacional Reagan de Washington tem uma pista principal de 2.094 metros, 100 a mais que Congonhas, e a US Airways opera lá uma larga frota de Airbus A320. Em qualquer destes aeroportos o acidente da TAM poderia ser igualmente fatídico. Por sorte destes aeroportos nenhum avião que derrapou lá, e foram vários, saiu ao final da pista a 175 Km/h como o nosso Airbus.

Quiz de Cinemática (respondam porque vai cair no próximo vestibular): Um avião pousa em um pista de 2.000 metros na sua marca de 300 metros. Ao tocar o solo está com a velocidade de 225 Km/h. Ao final da pista choca-se com os obstáculos a 175Km/h. Qual o tamanho da pista que seria necessário para parar completamente a avião se fosse mantida sua desaceleração? O primeiro que responder corretamente eu envio um brinde.

Curiosidades: Este vídeo mostra um Jumbo 747 não conseguindo parar na pista de 3500 metros de Mendelin, Colômbia! Imagine se no final desta pista ele estivesse a 175km/h! Veja aqui: Youtube

7 comentários:

patricia m. disse...

Carlos, voce quer comparar acidente aereo em Chicago com acidente aereo em Congonhas. Voce descreveu o que bem te apetece. Olha so o que achei:

"It is now recommended practice for any new runway to have a clear area at least 1000 feet long at each end, called a 'runway safety area', to allow additional space for an aircraft that overruns the runway to decelerate & stop in relative safety. As Midway was constructed before these rules were put in place, it does not have this safety area. The accident has brought up discussions for the possible need for an engineered materials arrestor system at Chicago Midway, given the lack of adequate overrun areas, and the surrounding residential neighborhoods. Additionally, actions taken by the city to acquire land for a buffer zone around the airport (in apparent recognition of the hazard) came to light after the crash."

O governo federal no caso do Brasil se preocupou com area de escape em Congonhas? Desde o primeiro acidente com a TAM, se preocupou como a prefeitura de Chicago em comprar terreno ao redor de Congonhas?

Esse acidente ai matou 1 menino de 6 anos em solo; o da Tam matou 200 pessoas. Comparando apples com bananas, eh?

Pergunta final: voce eh petralha? So pode...

airWatch disse...

Patricia,
Não é possível fazer o que você sugere. A possibilidade é fazer uma área de escape reduzindo o tamanho da pista. Desta forma não mais poderão pousar aviões do porte do airbus ou 737 e Congonhas passa a ser um aeroporto somente para aeronaves pequenas.
Não comparei o acidente de Midway com Congonhas. São coisas completamente diferentes. Comparei o tamanho das pistas e a localização do aeroporto. Você acha que as ações da prefeitura de Chicago é para onde os aviões derraparem ou ter onde cair? Você esta enganada, mas não dá para discutir nesta resposta. Insisto, que a localização do aeroporto é uma questão de incomodo que provoca para o entorno e não sua segurança. O aeroporto Teterboro, na região metropolitana de NY, que você deve conhecer, com o mesmo tamanho de pista, teve limitada a operação de aviões até 100mil libras (um pouco menos que os Airbus) somente pelo problemas de inconveniencia para os moradores próximos e não por questões de segurança. Não adianta o aeroporto estar afastado das residências e seu entorno topográfico ser desfavorável.
Se sou petralha? Se petralha for combater a irracionalidade, oportunismo político (de esquerda e direita), querer aparecer na mídia a qualquer custo, e revelar quem está defendendo interesses excusos, sou sim. Cuidado, que eu estou de olho nos seus comentários, mas não deixarei de publica-los, não sou como o Joe Sharkey :-)
PS: Voce não resolveu o meu problema de cinemática.

airWatch disse...

Patricia,
Você deveria citar a referência desta citação que é Southwest Airlines Flight 1248. Como conclui o artigo (que você citou): "Alternatively, the crew could have circled in a holding pattern waiting for the weather to improve, or they could have diverted to an alternate airport, such as Chicago O'Hare International, whose substantially longer runways were 10 minutes' flying time away. However, each of these options would have entailed considerable additional expense for Southwest, as well as missed connections and significant inconvenience for the flight's passengers. The National Transportation Safety Board identified the psychological pressure to complete their assigned task as one of the factors contributing to the crew's decision to land at Midway despite unfavorable conditions". Portanto me parece que uma área de escape ou desocupar a vizinhança para não matar ninguém não seria a melhor solução. Aparentemente desde este acidente toda a área ao redor de Midway continua do mesmo jeito, e ninguem deu bola para esta sugestão. Obrigado por me fornecer elementos para demonstrar que o problema é de adequação das condições da pista às condições do avião e não simplesmente o tamanho da pista. Nesta análise a variável dependente é o avião e a independente é o comprimento da pista e não o contrário.

patricia m. disse...

A cidade de Chicago comprou terras para a area de escape no entorno do aeroporto. Detalhe: Midway eh o 30o aeroporto em numero de passageiros; Congonhas, se nao eh o primeiro do pais, eh o segundo.

De novo, compara alhos com bugalhos.

airWatch disse...

Patricia,
Não entendo qual é o seu ponto. Primeiro, você está dizento que eu estou comparando Midway com Congonhas em que? Eu só disse que Midway tem pistas do mesmo tamanho de Congonhas, opera com os mesmos aviões e está dentro de uma metrópole. O que está errado nisto? Você acha que os aeroportos devem ter áreas de escape. Ótimo, se isso for possivel, é claro. A compra de áreas externas ao aeroporto serve para que? Para ampliar o aeroporto ou suas instalações. Certamente para ter onde os aviões cairem é que não é. E se não for possível ampliar o aeroporto? No caso de Congonhas o que você sugere? Fazer um viaduto para a pista sobre a Rubem Berta? Além disso, no caso do acidente da TAM isso não teria adiantado nada. O avião saiu a 175km/h da pista!Ele não derrapou como nos outros acidentes de Taipé e Chicago. Você sabe que área de escape precisa para parar um avião a 175Km/h (responda meu quiz que eu mando um brinde)? Se ele deslizasse na água a esta velocidade, ele despedaçaria! Alias se o Airbus tivesse derrapado ao invés de ter voado por cima da Rubem Berta, ele teria destruido uns 20 carros no mínimo. Você não viu que nos outros acidentes de Congonhas, os aviões pararam no barranco, que tem o mesmo efeito de uma área de escape. Não adianta ficar imaginando aroportos ideais se não for possivel construí-los. Se você tiver boas idéias eu levo para meus amigos lá do doutorado da Poli, já que você deve ter conhecimentos profundos de engenharia civil. Para Congonhas a única possibilidade é não permitir a operação de aviões do porte do Airbus, se este fosse o caso (o que eu não acredito, porque eles operam em muitos aeroportos do mundo com pistas de até 1400 metros, como o Santos Dumont, Midway, Reagan, etc., etc.). Mas como você verá brevemente este acidente poderia ter ocorrido no Midway ou no Regan e as fatalidades infelizmente seriam as mesmas. Enquanto fica-se falando do tamanho da pista, da área de escape, do grooving, do reverso e outros fatores irrelevantes (aguarde) não se discute porque os spoillers não abriram (a causa verdadeira do acidente), como eu disse desde o primeiro dia.

airWatch disse...

Veja este artigo que mostra o que o que se está pensando para Chicago:
Clique aqui
CHICAGO'S MIDWAY LAND RUSH
"City quietly buys 400 parcels around Southwest Side airport
While Chicago officials have long dismissed expanding Midway Airport, the city has quietly gobbled up surrounding land--including parcels that could be used for a protection zone at the end of the runway overshot last week by a Southwest Airlines jet."

"In just the latest acquisition effort around the landlocked airport, the city in 2004 passed an ordinance allowing the purchase of land "for use as Runway 31C/13C Runway Protection Zone and airport development."

"The Southwest jet skidded off that runway during a snowstorm Dec. 8, striking a car on Central Avenue, killing 6-year-old Joshua Woods and injuring 10 people."

"The city's ultimate plans for the land remain unclear. The ordinance shows that the city has set its sights on land at the end of the runway. But officials said Thursday they have no plans to build a protection zone there."

"We have always said we cannot undertake a massive land acquisition program to build a protection zone, and we have no plans to do so," said Erin O'Donnell, a deputy Chicago aviation commissioner who manages Midway."

"Since 1990, the city has been involved in 93 transactions to acquire land around Midway. The 2004 ordinance authorizes another four purchases that have not been completed. Including purchases dating to 1948, the city has spent $52 million on nearly 400 parcels around Midway."

"Many of the purchases were for other purposes, such as terminal and parking expansion, and "object-free zones" that keep the airport's perimeter clear for planes."

M. disse...

Congratulations on your blog!
That is what that Shark Joe needs!
Just a friendly advice:Do not comment on his biased blog. People are realizing that it does not worth a comment , anyway.