Eu já havia dito que os pilotos do Legacy estavam completamente despreparados para voar sobre o Brasil e agora acho que compreendi porque eles confundiram a liberação do nível 370 até Manaus. Até agora, tudo que lí, indica que eles não fizeram uma preparação para o vôo, por isso não sabiam provavelmente associar os nomes das cidades e aeroportos ao plano de vôo que receberam, que é feito através de siglas. Então o problema não começou em Brasilía, mas sim em S.José e todo mundo fica analisando o que ocorreu em Brasília e não analisa o que ocorreu em S.José onde os pilotos se fundamentam para terem sido liberados. Primeiro é preciso entender que quando um piloto ou o controle dizem uma sigla, eles têm uma forma própria de dizer letra-a-letra, S-B-E-G, por exemplo, e a cidade ou aeroporto é dito como nós falamos.
Primeiro vejam as regras da liberação do vôo:
"4-4-1. Clearance
a. A clearance issued by ATC is predicated on known traffic and known physical airport conditions. An ATC clearance means an authorization by ATC, for the purpose of preventing collision between known aircraft, for an aircraft to proceed under specified conditions within controlled airspace. IT IS NOT AUTHORIZATION FOR A PILOT TO DEVIATE FROM ANY RULE, REGULATION, OR MINIMUM ALTITUDE NOR TO CONDUCT UNSAFE OPERATION OF THE AIRCRAFT.
(...)
4-4-3. Clearance Items
ATC clearances normally contain the following:
a. Clearance Limit. The traffic clearance issued prior to departure will normally authorize flight to the airport of intended landing. Under certain conditions, at some locations a short-range clearance procedure is utilized whereby a clearance is issued to a fix within or just outside of the terminal area and pilots are advised of the frequency on which they will receive the long-range clearance direct from the center controller."
Eles estavam em S.José, o aeroporto de destino era o Eduardo Gomes de Manaus, SBEG, e o primeiro ponto fixo era Poços de Caldas, PCL.
A torre de S.José fala, traduzido aqui do inglês:
November seis zero zero x-ray lima, ATC permissão para Eduardo Gomes, nível de vôo três sete zero direção Poços de Caldas, código squawk do transponder quatro cinco sete quatro. Após a decolagem faça partida oren.
Ou seja a torre fala Eduardo Gomes e Poços de Caldas. Lepore responde:
Okay senhor, eu peguei a pista um cinco para So...ah SBEG, nível de vôo três sete zero eu não peguei o primeiro fixo, squawk quatro cinco sete quatro, partida oren.
Há uma pequena exitação com Eduardo Gomes, mas ele associa corretamente à sigla SBEG, OK. Mas ele não associa Poços de Caldas à PCL e diz "eu não peguei o primeiro fixo". O problema começou ai, mas não consegui obter este diálogo completo, mas dizem que foi muito confuso. Ou seja, a partir daqui, são minhas suposições: O controlador repetiu a frase, e talvez Lepore tenha entendido como primeiro fixo Eduardo Gomes. De qualquer forma foi uma confirmação de clearance indevida por Lepore. Os pilotos do Legacy não fizeram o briefing antes da decolagem. Embora não seja obrigatório, o procedimento orienta o piloto sobre sua rota e o informa a respeito das condições meteorológicas.
Se tivessem feito o briefing, Lepore saberia que, em Brasília, teriam de descer para 36 mil pés.
Na mente de Lepore era um vôo direto no mesmo nível. Este diálogo precisaria ser divulgado, para as pessoas julgarem. Eventualmente até uma confirmação indevida de Eduardo Gomes ele poderia ter recebido. Podem estar certos que encontrarão uma virgula errada na frase do controlador de S.José. De qualquer forma, seria uma alteração profunda e preocupante do plano de vôo, imagine estar colocando-os na contramão, e precisaria ser explicitamente confirmada.
Esta confusão só surgiu porque Lepore não tinha menor ideia do plano de vôo, não o estudou, porque senão ficaria muito preocupado com esta liberação, ou deveria ficar. Aparentemente ele recebeu o plano na hora de partir. Não haveria esta confusão se estivessem preparados.
Ainda não falei sobre a culpabilidade dos controladores de vôo, mas deixo um resumo, uma opinião pessoal: Eles poderiam ter evitado o acidente se tivessem "sacado" que o Legacy estava com um problema, e não assumissem que estava tudo bem, mesmo sem rádio e transponder. O erro que os pilotos cometeram foi completamente inesperado por eles.
O que me deixa preocupado é que por mais que se fale, explique isto, e esteja cabalmente demostrado, estrageiros com a ajuda de um grupo muito grande de brasileiros vão culpar os controladores que não sabem falar inglês, os equipamentos, os buracos negros da Amazônia (sobre Brasília), das normas brasileiras, etc., etc., etc. Não há o que se diga que mude um PRÉ-conceito. É uma pena.
Esta história me lembra um problema doméstico que tenho. Sempre que viajo, prefiro estudar profundamente os mapas, minha esposa prefere sempre "ir perguntando". Já pensou se eu estou em Berlim e um alemão em um Português perfeito me diz: "Vire a direita na Harderbergerstrasse depois novamente a direita na Kuffürsterdamm e depois a esquerda na Tautzienstrasse" onde eu vou parar?
terça-feira, 4 de setembro de 2007
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Um comentário:
Novidades aqui:
http://uk.news.yahoo.com/afp/20070904/twl-switzerland-germany-4bdc673_1.html
"manslaughter" melhor Mr. Joe Shark ir acostumando com essa ideia, pois os pilotos vao ser condenados por homicidio culposo, o equivalente a "manslaughter"...
O que sera que ele vai dizer da "criminalizacao" desse acidente ocorrido na Suica, onde havia apenas 1 controlador para 15 voos?! Sera que esses problemas so ocorrem no Brasil? Suica, heim!
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