quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Não confie no que você está lendo aqui, duvide de mim, duvide de si mesmo

Recentemente eu participei de um seminário sobre Inovação, onde o Walter Longo, publicitário e presidente da agência Young&Rubicam, fez uma palestra em que mostrava a necessidade das novas mídias e suporte para a publicidade, e destacava principalmente a internet. Dedicou-se longamente à publicidade que não parecia publicidade, o merchandising. Precisamos inovar, dizia ele, e mostrou inúmeros exemplos onde nós não percebemos que estamos sendo influenciados em nossas atitudes e comportamentos.

Lembrei-me também, como muitas empresas estão utilizando os grupos do Orkut, Blogs e fórums de discussão para passar mensagens de qualidade dos seus produtos e assim criar um posicionamento favorável para o mercado. Associar produtos a determinados grupos de interesse através da internet e muito mais eficaz que qualquer outro método.

Sempre fui uma pessoa avessa a esta forma de relacionamentos pela internet, mas não de uma forma consciente. Sempre me incomodou a falsidade, a mentira, o parecer o que não é que este meio permite. Se alguém já leu os meus posts verá que eu sou uma pessoa de tecnologia e informática. Portanto, antes que alguma pessoa queira me colocar algum rótulo, sou uma pessoa muito mais “antenada” na internet do que a maioria que está lendo aqui.

Embora não participe de sites do tipo Orkut, não tenha MSN, e por ai afora, freqüento diariamente os fóruns de tecnologia e informática e os noticiários online. Com o acidente da TAM, na minha janela, passei a freqüentar os fóruns dos que se dizem pilotos e “especialistas” em aeronáutica e também o blog do Joe Sharkey e os outros blogs que se conectam nesta rede. Aí percebi como a mentira se une a moderna tecnologia.

O assunto do acidente da Gol voltou ao palco, porque fiquei revoltado com o blog do Joe Sharkey, e só ai me dei conta que todo mundo da internet tem a visão do Joe Sharkey, e inclusive passou a ser uma visão generalizada dos brasileiros.

Neste momento já não me resta a menor dúvida. O piloto do Legacy, Joe Lepore, estava completamente despreparado para vir buscar este avião aqui. Este foi seu primeiro vôo com este avião, embora tenha afirmado que já estava acostumado com outros da Embraer. Nunca havia estado no Brasil. Se lhe dessem um mapa, não saberia nem apontar Brasília e Manaus. Duvido que soubesse apontar até mesmo onde estava. Não conhecia os nomes das cidades brasileiras. Hoje fico com muita pena da situação em que foi colocado. Quem me chamou atenção para isso foram os comentários da Cassandra, uma americana que participa do blog do Sharkey e do meu. Você está absolutamente certa.

A partir daí construiu-se a farsa tecnológica da liberação do nível 370 para Manaus. Está mais do que claro que Lepore, uma pessoa completamente confusa em S.José, não podia levar este avião a nenhum lugar. Admito que até ele poderia ter recebido instruções confusas por um pobre coitado de um controlador da torre de S.José que não estava preparado para ensiná-lo o caminho de casa. Pode ter até falado "Cara é isso mesmo, siga em frente que você chega lá. Se não encontrar o caminho, pergunte em Manaus", em um inglês macarrônico.

Ninguém vai chegar a esta conclusão, porque a tecnologia da internet se uniu à construção de um mundo Second Life de aeroportos, torre de controle, Cindacta, Lepore e Sharkey. Ninguém analisa a dimensão humana do Lepore. Todos conhecem os avatares destes personagens e analisam suas frases isoladas de contexto, pedaços de mundos virtuais unidos pela tecnologia dos blogs, fórums e chats, discutindo este acidente virtual que matou 154 brasileiros reais. Neste mundo Second Life, as emoções, tremores de mão, suor, estão fora. Todo mundo fica preocupado com a tecnologia precária dos aeroportos, com os nossos controladores de vôo despreparados que não falam inglês, com buracos negros sobre os céus de Brasília (deixo a piada para depois), transponders ligados ou desligados, se houve o clearance ou não, se a tela do radar devia mostrar um xis ou um quadradinho.

Não precisava nada disso. Bastava o Operational Manager da Excelaire sair do Second Life e escolher outro piloto para vir buscar este Legacy no Brasil de First Life.

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