Joe Sharkey publicou recentemente um novo post em seu blog onde dá continuidade a sua tentativa de criar uma versão do acidente da Gol vôo 1907 para a mídia que retira da Excelaire qualquer culpa.
Diz: “Ficou muito claro para mim, logo após a aterrissagem na selva, que estava em curso uma tentativa de encobrir a verdade e encontrar um bode expiatório. O acidente aconteceu dois dias antes de uma acalorada eleição presidencial no Brasil, onde era palpável uma subseqüente enxurrada de histeria anti-americana apressando para criminalizar o acidente e culpar os pilotos americanos”. Nada pode ser mais absurdo, ao invés de discutir ou expor as causas do acidente, introduz questões políticas e um ridículo anti-americanismo, como motivadores para culpar os americanos. Anti-americanismo no Brasil! Coitado, ficou paranóico, acha o mundo odeia os americanos! Talvez esteja confundindo Lula com Hugo Chaves. Nada mais falso em se tratando de Brasil. Procura com isto reunir forças políticas para confundir a mídia. Como não culpar os pilotos se eles estavam voando por uma hora na “contramão” com um equipamento de segurança, o transponder, desligado? É o mesmo que encontrar uma pessoa com uma arma fumegando na mão ao lado da vítima e achar que ela não tem nenhuma responsabilidade. Pode até ser legítima defesa, mas é claro que tem que ser investigado se houve um crime ou não. Como que isto pode ser uma “histeria anti-americana”?
Prossegue: “E também, rapidamente, ficou claro para mim que o controle de tráfego aéreo do Brasil é notoriamente não confiável, afirmado para mim por mais de uma dúzia de pilotos internacionais e desde então totalmente confirmado pelas evidências. O sistema, estranhamente operado pela Força Aérea Brasileira, dependente de equipamentos não confiáveis e controladores pobremente treinados. Há também bem conhecidos buracos negros de rádio e radar sobre a Amazônia”. Continua sua estratégia para confundir criando associações de fatos inexistentes. Mesmo que isto seja verdade, e parece ser, como que isto contribuiu para o acidente? Os movimentos do Legacy e do Boeing foram detalhadamente registrados pelos radares! As tentativas de comunicação do controle com o Legacy ficaram gravados até mesmo nos registros de voz do Boeing! Ou seja, se há buracos negros da Amazônia, o Legacy certamente não caiu em nenhum deles. E quanto aos controladores, sim, foram mal preparados, já que deveriam supor que pilotos mal treinados poderiam trafegar na contramão com transponders desligados por centenas de quilômetros. É algo, que os controladores não conseguiram prever, tamanha imperícia, mas agora sabemos que é algo perfeitamente possível.
Repete seu velho discurso que: “Ambos aviões estavam voando onde lhes disseram para voar pelo controle de tráfego aéreo”, quando na verdade o que ocorreu é que os pilotos do Legacy não entenderam, assim como Joe Sharkey, uma autorização, cujo formato está até mesmo previsto nas instruções para planejamento de vôos para os pilotos americanos quando voam na América do Sul (vejam meu post), mas a qual, não estavam habituados. Diz literalmente o documento do Departamento de Defesa Americano: “Muitos países sul americanos usam o termo ‘Cleared Direct’ para um fixo quando eles querem dizer para um piloto que voe pela rota planejada até o destino final ou o ponto fixo liberado”. Ou seja, os pilotos foram autorizados a voar segundo o plano de vôo apresentado, e isto foi confirmado pelos testemunhos dos controladores de vôo e verificado nas gravações da torre. Acrescenta ainda as recomendações: “Tenha cuidado quando aceitar uma rota direta para um fixo, ou questione o controlador sobre suas reais expectativas”. Por não terem se preparado para o vôo, os pilotos se confundiram com a autorização além de não entenderem os nomes das cidades em sua rota, já que só as conheciam apenas por suas siglas. Mesmo não compreendendo, não a questionaram. As normas de vôo determinam que “o piloto em comando, a qualquer momento, se estiver em dúvida, deve solicitar um descrição detalhada da rota ao Controle de Tráfego Aéreo”. Mas eles não tiveram dúvidas. Será que não estranharam estarem sendo colocados na contramão para cruzar o Brasil de Brasília à Manaus? Como poderiam estranhar, se desconheciam completamente o espaço aéreo brasileiro?
Sobre a apuração do acidente, Sharkey coloca em dúvida as conclusões que chegarão as autoridades brasileiras: “Tão logo o relatório brasileiro seja oficialmente liberado, talvez ao final desta semana, o National Transportation Safety Board dos Estados Unidos, que está conduzindo suas investigações paralelas, será capaz de liberar seu relatório. Expera-se que o relatório do NTSB seja bem mais justo e preciso”. Sharkey quer confundir a mídia, porque todos nós sabemos que o relatório do CENIPA assim como do NTSB é extremamente factual, e só trará recomendações para evitar novos acidentes. O objetivo destes relatórios não é encontrar culpados e, portanto, nenhum relatório apontará os pilotos como culpados. Entretanto, isto não os inocenta. Não é porque os relatórios não apontarão os culpados, que não os há. Todos nós sabemos diante dos fatos conhecidos que o maior culpado deste acidente, embora haja outros fatores contribuintes, foi a Excelaire ao designar pilotos não capacitados para buscar o Legacy em seu vôo inaugural, com uma ausência total de consciência situacional.
O que dirá Joe Sharkey quando os relatórios apontarem que nenhuma falha de radares ou rádio contribuiu para o acidente? O que dirá Joe Sharkey quando os relatórios apontarem que nenhum defeito foi encontrado no transponder? O que dirá Joe Sharkey quando os relatórios disserem que os pilotos não conheciam seu plano de vôo? O que dirá Joe Sharkey quando os relatório apontarem que os pilotos não conheciam adequadamente a aeronave que pilotavam? O que dirá Joe Sharkey quando os relatórios apontarem que os pilotos não observaram o painel de comando por uma hora?
Infelizmente, toda a mídia ainda dará ouvidos a Joe Sharkey.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
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